BISPO RANDAL BRITO

As batalhas enfrentadas não foram poucas.

O bispo Randal Brito, 51 anos, e sua esposa, Cláudia Oliveira Brito, 49 anos, passaram por diversos desafios ao longo dos 32 anos de casamento. 

Problemas de saúde, um grave acidente de carro e dificuldades em lidar com diversos idiomas não foram suficientes para abalar a fé e a determinação desses dois cariocas. 

Morando atualmente na Inglaterra, o casal concedeu uma entrevista exclusiva para contar as experiências vividas e mostrar o que é preciso para manter uma união saudável por mais de três décadas. 

Como os senhores chegaram à Universal? 

Ele: A minha mãe tinha um problema cardíaco incurável e o médico já havia detectado que ela não viveria mais de um ano. Ela caiu em depressão e praticamente se entregou ao problema. Uma vizinha, vendo a situação, convidou minha mãe para ir à Universal. E, para espanto de todos nós, depois que ela passou a frequentar a igreja, de uma hora para outra, percebemos que ela estava se recuperando, animada, alegre e fazendo aquilo que já não conseguia fazer. Depois disso, toda a família foi para a Universal. Eu tinha 14 anos e foi uma experiência que marcou a minha vida. Passei a frequentar todos os dias. 

Ela: Fui por causa da minha mãe. Ela era mãe solteira e vivia sempre doente, com uma bronquite crônica. Eu ficava acordada todas as noites, cuidando dela, porque precisava chamar a ambulância e levá-la para o hospital sempre que passasse mal. Em 1980, ela escutou uma programação na rádio e foi para a Universal. Quando voltou, dormiu a noite toda. Perguntei o nome do remédio que tinham dado e ela repetia que tinha sido só oração. Em um domingo, fui com ela para a Universal em Copacabana. Eu tinha 13 para 14 anos. Eles me receberam muito bem. Entrei e nunca mais deixei de ir. 

Como os senhores se conheceram? 

Ele: Eu era pastor em Duque de Caxias e, numa sexta-feira, estávamos distribuindo vidrinhos com azeite para os membros da igreja. Os vidrinhos terminaram logo na reunião da manhã e eu precisei buscar mais na Universal do bairro da Abolição. Quando cheguei lá, vi a Cláudia. Eu nunca a tinha visto. Olhei duas vezes para ela, desci e perguntei à obreira Sônia, que na época era responsável pela livraria da igreja, quem era aquela mulher e disse que queria conhecê-la. Consegui o telefone da Cláudia e liguei no mesmo dia. 

Ela: Eu achei que era um telefonema para me dar alguma bronca, me chamar atenção. Eu jamais imaginei que um pastor ligaria para a minha casa. A minha mãe até perguntou o que eu tinha feito, pois ele queria me conhecer. Ele foi muito direto. Disse que precisava conversar comigo. Lembro que era uma quarta-feira. Quando ele falou isso, fiquei um pouco preocupada. Foi assim que nos falamos pela primeira vez. 

E já começaram a namorar? 

Ele: Nos encontramos e a pedi em namoro. Naquele momento, eu pensei: é tudo ou nada. Isso aconteceu no início de 1982. Nessa época, a Universal alugou o prédio do Brás, em São Paulo, e o Bispo Edir Macedo me enviou para ir para lá. Eu não sabia quanto tempo ficaria longe, então, terminei o nosso namoro de três meses. Um ano depois, voltei para o Rio de Janeiro. Soube que ela tinha ficado muito triste com o término. 

Ela: Quando ele terminou, pensei na minha mãe, que era solteira. Lembrei que o relacionamento dela também não tinha dado certo. Ele pediu um tempo e não me deu muitos detalhes. Ele voltou, contou o que havia acontecido e finalmente pude entender. Seis meses depois nos casamos.

Ele: Casamos no dia 3 de setembro de 1983. Eu com 19 anos e ela com 17 anos. Uma semana antes, fui consagrado pastor no Maracanãzinho.

Como foi o início do casamento? 

Ele: O que marcou o início foi a perda da mãe da Cláudia. Ela faleceu um mês depois de nos casarmos. Acredito que ela cumpriu a missão dela diante de Deus. Para a Cláudia, foi um choque. Mexeu com a estrutura física dela. Ela tinha cistos no ovário e, um dia, passou muito mal. O médico falou que a Cláudia não poderia gerar filhos. Eu não planejava ter filhos, mas, depois do que o médico falou, determinei que isso seria possível. A Cláudia engravidou e, em 1984, nasceu a nossa filha Priscila. 

Ela: O sonho que nós tínhamos era de gerar almas. Eu nunca imaginei ter filhos, nunca falamos sobre isso. Quando o médico falou que eu não podia ser mãe, aquilo me pareceu normal. Não mexeu tanto comigo, mas quando eu descobri que estava grávida, chorei. Não sabia o que fazer. Tudo para mim foi o início de um aprendizado muito grande. E 11 meses depois eu engravidei novamente. Aos 19 anos eu fiz uma laqueadura, pois já tinha duas filhas. E a nossa segunda filha, a Patrícia, teve um problema no nascimento. 

O que houve com a Patrícia? 

Ele: Ela não respirou quando nasceu. Enfiaram um tubo para sucção, mas o período que ela ficou sem respirar causou danos. O diagnóstico veio quando ela tinha três meses. Estávamos na Bahia e eu mandei as duas para o Rio de Janeiro, para que fossem feitos exames mais precisos. O médico disse que ela tinha uma lesão cerebral. E, em um ato de revolta, passei a noite inteira conversando com Deus no Altar da igreja, pedindo que Ele curasse nossa filha ou a matasse. Disse que Ele havia me chamado para ser um ganhador de almas, então, precisava responder meu clamor. Depois da consulta, Cláudia voltou para a Bahia e a Patrícia passou a se comportar como uma criança normal. Mamou, chorou. De lá para cá, nunca teve nenhum sintoma.

E, depois da Bahia, para onde foram? 

Ele: Voltamos para o Rio de Janeiro. Depois, fomos para o Rio Grande do Sul, Recife, Ceará, São Paulo e, em seguida, saímos do Brasil. Fomos para Portugal primeiro e na sequência ficamos dez meses na África do Sul. Retornamos para o Brasil, para São Paulo. E, ao voltarmos para o Rio de Janeiro, fui consagrado bispo, em 1995. Depois fomos para o Paraná, Mato Grosso do Sul. Saímos do Brasil em 1999 e fomos para a Namíbia, começar o trabalho da igreja por lá. Como foi a experiência na Namíbia? 

Ele: Eu não falava inglês e tudo começou com a dificuldade do idioma. Eu estava começando lá, não tinha dinheiro para fazer curso. Aprendi com folhetos e livros. Não tínhamos igreja ainda. Mas a gente queria fazer visitas, ganhar almas. As pessoas liam os panfletos que distribuíamos e voltavam para conversar, para entender o trabalho da Universal. Eu tentava explicar com um inglês ruim e falavam: “volta para o seu país, você não sabe nem falar a nossa língua”. De que forma começou o trabalho por lá? 

Ele: Um dia eu estava evangelizando no centro de Windhoek, que é a capital, e uma senhora me perguntou se eu falava português. Ela contou que era angolana e que tinha mandado mais de 50 cartas pedindo que abrissem uma Universal em Windhoek. Eu falei que não tinha igreja ainda e ela ofereceu a garagem da casa dela. Chegou um momento em que o local não comportava tanta gente. Foi preciso alugarmos um salão. Um dia, o dinheiro e a comida acabaram. Pensei que eu podia viver uma dependência total de Deus. Decidi que ficaríamos sem comer. Ficaram quanto tempo sem comer? 

Ele: No final do segundo dia sem comida, fiz a reunião com tontura e me sentindo fraco. Quando acabou, a senhora que emprestava a garagem falou assim: “Bispo, eu estava no supermercado e me veio uma vontade muito grande de fazer compras para o senhor, para a sua família e para o outro pastor. Espero que o senhor não fique triste por isso”. Eu contei para ela que estava há dois dias sem comer. Fizemos um banquete naquela noite.

E como foi o crescimento da igreja? Foi rápido? 

Ele: Depois de um tempo, já tínhamos 250 membros na Namíbia. Mas um ano e três meses depois sofri um acidente. Um grupo de homens bêbados bateu no veículo que eu dirigia. Tive múltiplas fraturas e fui transferido para a África do Sul, para fazer cirurgias. Não foi uma coisa pequena. Ao todo, quatro pessoas morreram no acidente. Três que estavam no outro carro e o pastor que estava no banco de trás do meu carro. Como foi para você ver seu marido sofrendo? 

Ela: Lidamos com a fé, mas, quando a dor está em nós, o sofrimento exige força. Ou mostramos quem somos ou nos desesperamos. Foi doloroso. Eu via um soldado ferido, sem poder voltar para a batalha. O Randal ficou um mês deitado, totalmente imobilizado, então, precisou de fisioterapia. Aos poucos ele foi se mexendo, andando. Foi um processo muito lindo, porque víamos Deus naquilo tudo. 

Ele: Ali eu amadureci muito. Isso tudo nos ajudou a ficarmos mais amigos, mais companheiros. 

Qual o conselho que os senhores dão aos casais? 

Ele: Éramos bem diferentes. Essencialmente diferentes. Mas aí entra a importância do sacrifício. Hoje, nós temos mais similaridades que diferenças, porque fomos nos adaptando um ao outro. Não se deve descaracterizar o outro para poder amá-lo. Isso não é bom. Somos duas pessoas diferentes. Você passa a aceitar até o que você não gostava, porque aquela pessoa é especial para você e você necessita dela. 

Ela: Depois de receber essa declaração ao vivo, posso dizer que tudo se completa (risos). Quando existe respeito, consideração, o amor flui, é puro e verdadeiro. Para mim, um olhar, um carinho já diz tudo. 

Perfil do casal 

Livro preferido 

Ele/Ela: a trilogia Nada a Perder 

Comida favorita 

Ele: salmão ao forno
Ela: cordeiro assado 

Filme predileto 

Ele/Ela: qualquer filme que envolva ação 

Um hobby 

Ele: jogar futebol 
Ela: caminhar

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